No entanto, alguns pacientes podem não apresentar cirrose antes de desenvolver o CHC, principalmente os pacientes com infecção crônica pelo vírus da hepatite B. É uma neoplasia primária de alta malignidade, etiologia multifatorial, cujo fator predisponente mais importante é a cirrose hepática. Trata-se de um dos dez tumores malignos mais frequentes na espécie humana, sendo sua incidência muito mais alta (500 mil a 1 milhão de casos por ano) em algumas partes do mundo, como Japão, África e China.
Acomete com maior frequência homens de meia-idade. A maior prevalência em indivíduos de
sexo masculino acontece em decorrência de alguns fatores, como: maior prevalência de vírus B e de hepatopatias crônicas em homens, maior exposição a toxinas ambientais, prevalência de maior de alcoolismo e,
possivelmente, fatores hormonais.
Incidência de carcinoma hepatocelular em diferentes partes do mundo; Alta incidência: 15 casos por 100.000 hab/ano; Intermediária 5-15 casos por 100.000 hab/ano; baixa: quando menos de 5 casos por 100.000 hab/ano.
O Carcinoma Hepatocelular tem amplo espectro de manifestações clínicas, que dependem da presença ou não de cirrose e insuficiência hepática, assim como das características biológicas do tumor. Em pacientes cirróticos, deve-se suspeitar de desenvolvimento tumoral nas seguintes situações: descompensação súbita sem causa aparente, ascite hemorrágica, crescimento hepático, trombose de veia porta, aumento progressivo de gama GT, fosfatase alcalina e alfafetoproteína.
Manifestações sistêmicas podem ocorrer no CHC, dificultando, por vezes, o diagnóstico inicial. A mais comum e significativa é a hipoglicemia (consumo excessivo de glicose ou secreção de substâncias semelhantes à insulina), que pode ser sintomática e, ocasionalmente, causa de óbito nesta população.
A eritrocitose pode ocorrer em até 10% dos casos (síntese aumentada do substrato proteico da eritropoetina) e sua presença em cirróticos sugere possibilidade de tumor.
Diagnóstico
Os pacientes com CHC clinicamente aparente sobrevivem por apenas poucas semanas ou meses. A maioria dos pacientes procura tardiamente o médico, tornando, desta forma, impraticável a ressecabilidade dos tumores. Todavia, é possível detectar pequenos tumores por meio do rastreamento regular naquela população de risco, melhorando assim o prognóstico. É necessário rastrear aqueles pacientes que se encontram em risco elevado. Neste grupo, incluem-se indivíduos com hepatite crônica de qualquer etiologia, sendo, certamente, mais importante naqueles com cirrose e nódulos macronodulares visíveis na ultrassonografia.
Ultrassonografia abdominal com Doppler
Pode identificar pequenos tumores de até 0,5-1 cm e corresponde ao exame de imagem mais utilizado no rastreamento do CHC, para triagem de população de alto risco. O tumor pequeno, geralmente, é hipoecoico, à medida que cresce e, posteriormente, hiperecogênico ou com padrão misto, por causa de hipervascularização, fibrose e necrose tumoral. A tomografia computadorizada deve ser helicoidal, com estudo dinâmico do fígado em várias fases: sem contraste, fase arterial, fase portal é fase de equilíbrio. Antes do contraste venoso, o aspecto tomográfico é de lesão hipodensa.
O tratamento do CHC pode ser dividido em:
1. Tratamento radical ou potencialmente curativo: ressecção hepática parcial, transplante hepático e terapias ablativas.
2. Tratamento paliativo: quimioembolização, quimioterapia, terapia hormonal, radioterapia, imunoterapia e outros.
3. Tratamento sintomático e de suporte.
A terapia radical é capaz de induzir resposta sustentada em porcentual variável de casos. O objetivo do tratamento paliativo é aumentar e melhorar a sobrevida do paciente. O tratamento sintomático e de suporte dirige-se a pacientes em fase avançada da doença, visando aliviar sintomas.
E importante que se avaliem o estado funcional do fígado não tumoral, o tamanho do tumor e as condições gerais do paciente, como estado nutricional e doenças associadas. A maioria dos pacientes tem fígado cirrótico, o que, frequentemente, inviabiliza ressecção. A extensão do tumor é ponto crítico, sendo necessário avaliar, além do tamanho da lesão, a presença de nódulos satélites, de invasão vascular e de metástases extra-hepáticas. As condições cardiorrespiratórias e comorbidades influenciam a escolha da terapia. Na tomada de decisões sobre a terapêutica, além das condições do paciente e do tumor, são fatores decisivos a experiência da equipe médica e os recursos hospitalares disponíveis no local.
O Dr. Guilherme H. Abrahão é especialista em Oncologia do Aparelho Digestivo. Atua na área de Oncologia do Aparelho Digestivo com ênfase em Cirurgia Hepato-bilio-pancreática. (fígado, pâncreas e vias biliares).